domingo, 2 de maio de 2010

O medo de ter medo

Após receber o diagnóstico e começar a terapia (o psiquiatra indicado não foi encontrado e eu comecei com uma psicóloga indicada por uma conhecida do centro de Dharma de Copacabana) fiquei em uma situação estranha. Tinha crises no meio da noite. Crises também bem estranhas de se explicar. Muitas vezes passei noites seguidas sem dormir. Só conseguia fechar os olhos quando o dia clareava. Eu ia pra cama dormir e talvez conseguisse "desmaiar" por 01 ou 02 horas de tanto cansaço. Então acordava no meio da noite (às vezes meia-noite ou 01:00h da manhã) com um medo inexplicável. E vinha uma sensação estranha de que as partes meu corpo estavam se "desconectando". Parecia que eu estava tão leve que não tinha mais referência de nada; nem do que era chão nem do que era céu. É como imaginar, talvez, uma gota d'água evaporando. E o medo sufocante. Ouvi dizer que essa sensação é encontrada também com quem sofre de labirintite e que por sua vez é relatada como sendo semelhante à experiência de morrer (essa última parte não lembro qual a fonte).

Certa vez, levantei da cama com essa sensação, chorando me vesti e me preparei pra ir ao Pronto Socorro. Mas o que me angustiava mais era saber que quando eu chegasse lá a crise teria passado e seria mais uma noite de tristeza e angústia. Nessa época o Lu ainda não dividia apartamento comigo. Eu tinha o celular na mão pronto pra ligar pra qualquer um que pudesse me ajudar naquela hora a me manter calma. Mas não liguei. Fiquei ali, vestida, olhando para o celular e esperando a maldita crise passar.

No outro dia eu tinha que ir pro trabalho e fingir que estava tudo bem. Mas esses foram dias em que o medo estava presente em cada respiração minha. A minha visão da Baía de Guanabara, que hoje sinto saudades, me causava calafrios só de pensar que eu estava, sei lá, no décimo andar -não lembro mais- e se eu surtasse e tentasse me jogar? Conferi disfarçadamente milhões de vezes a segurança daquelas janelas (que pra piorar eram de vidro, na verdade, paredes de vidro) e dei graças a Deus por todas serem fechadas permanentemente.

Comecei então a me familiarizar com a sensação de ter medo de sentir medo. Eu temia o momento em que o medo pudesse chegar novamente e todas aquelas sensações ruins que ele trazia. A minha rotina era uma contagem regressiva pra próxima crise. E eu não percebia que isso só agravava a situação. Quanto mais medo eu tinha, pior ficava.

Pra minha sorte (sim, me acho muito afortunada!) esse foi um dos assuntos que cedo conversei com a psicóloga. E ela me explicou que isso era normal nesses casos mas que o meu trabalho consistia em resistir a isso. Analisar a situação e seguir a minha vida normalmente, o máximo que pudesse. Perguntas como "O que de pior pode acontecer? (Nada!)" e afirmações do tipo "Crise de pânico não mata ninguém" e "Ninguém desmaia por causa de um crise de pânico" me ajudaram a manter os pés no chão e não me desesperar. E com o tempo fui me familiarizando com o mecanismo da crise e foi ficando melhor de lidar com elas.

Durante meus relatos pode-se perceber que me acho alguém com muita sorte (por falta de palavra melhor). Mas é a mais pura verdade. Essa piscóloga que encontrei me ajudou muito e o trabalho dela também encaixava com as minhas crenças. Tive um diagnóstico cedo o que impediu que as crises piorassem. Tive todo o apoio dos amigos, irmão e namorado. Ninguém nunca achou que fosse frescura (pelo menos não na minha cara... :-)). Minha gerente na época foi bem compreensiva também pois ela tinha tido um caso na família bem complicado sobre crise de pânico. Ela inclusive me emprestou um livro muito bom do Gugu Keller, que também teve esse problema e em dimensões beeem maiores que a minha. É um bom livro; curtinho e direto.

Então, eu estava mal mas não estava sozinha. Tive todo um suporte para passar por isso. E assim, posso dizer que sou uma pessoa afortunada, do fundo do coração.

Até.

Um comentário:

Luciano Freire disse...

Eh marcy... quem estava ali ao teu lado não podia imaginar que tudo isso estava se passando por dentro de vc, enquanto falávamos abobrinhas, e interpretávamos "Presença de Anita"... mas sei o que é ter um mundo interno fervilhante, mas não mostrar isso ao externo... bjão